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MORFOLOGIA E LEXICOLOGIA HISTÓRICAS

Projeto 01

Estudos morfolexicais e morfossemânticos do português arcaico – origem, constituição e funcionamento

 

O projeto Para Estudos morfolexicais e morfossemânticos do português arcaico – origem, constituição e funcionamento é uma proposta de estudos coletivos que se vincula ao PROHPOR, com a participação de professores/pesquisadores integrantes do programa, a saber: Antônia Vieira, Aurelina Ariadne Domingues Almeida, Elisângela Santana dos Santos, José Amarante Sobrinho, Juliana Soledade Barbosa Coelho. Além desses professores pesquisadores, o projeto conta ainda com a colaboração das Professoras Doutoras Graça Maria Rio-Torto  (Universidade de Coimbra) e Margarida Basílio (PUC-RJ), que se predispuseram atuar como consultoras dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do projeto. Assim, serão desenvolvidos estudos acerca do léxico do português arcaico, a partir de um corpus amplamente representativo da documentação remanescente, a fim de descrever o funcionamento da língua em aspectos diversos tocantes à formação do léxico, a saber: aspectos morfolexicais e semânticos de nomes comuns e próprios.

 

Com o objetivo final de contribuir para a elaboração de uma gramática do léxico do português arcaico, o projeto buscará estabelecer, ao longo de seis anos de pesquisa, um mapeamento dos elementos mórficos que entram na constituição do léxico do referido período, a fim de fazer um levantamento e análise do significativo espectro de questões que o estudo do léxico, em perspectiva histórica, suscita.

 

JUSTIFICATIVA

 

O projeto que ora se apresenta decorre de sugestão da Dra. Graça Maria Rio-Torto, professora da Universidade de Coimbra e renomada morfologista, que atualmente desenvolve projeto semelhante para estudo do léxico do português sincrônico, com ênfase na morfologia derivacional. 

 

O projeto vem, portanto, enfocar a necessidade de mantermos presentes e renovados os estudos do português arcaico em nossa instituição e ainda, a necessidade, reconhecida no meio acadêmico, do estudo lexical desse período, que, por sua vez, já vem sendo enfocado em dissertações de Mestrado e teses de Doutorado diversas, desenvolvidas no âmbito do PROHPOR.

 

Embora de improvável ocorrência, considerando o âmbito do Departamento de Letras Vernáculas da UFBA, lar acadêmico da Profa. Dra. Rosa Virgínia Mattos e Silva, levantamos, ad argumentandum tantum, a primeira pergunta que se poderia fazer um leitor do projeto que ora se apresenta: por que estudar o português arcaico?

 

O interesse por um momento tão recuado na história do português pode parecer especulação, “curtição” erudita, naquela compreensão de que o não imediatamente aplicável não faz sentido, é quase uma inutilidade. Contudo, Rosa Virgínia Mattos e Silva,  em seu livro O Português arcaico: uma introdução (2009), apresenta de forma contundente as justificativas pertinentes, que se podem sintetizar como a seguir:

 

O trabalho sobre períodos recuados na história de qualquer língua exige, pelo menos, certa “erudição”, pois, diferentemente do trabalho sobre qualquer língua na sincronia contemporânea ao pesquisador, se faz necessário que, para além do conhecimento de teorias e métodos da Linguística, esteja ele informado sobre vários aspectos da contextualização histórica em que funcionava a língua no momento estudado;

 

O estudo do passado da língua portuguesa em muito poderá contribuir para a compreensão da língua em sua sincronia: os dados do passado das línguas podem fornecer argumentos para teorias que têm como objetivo explicações dos mecanismos cognitivos e psicológicos que estão na base de qualquer língua histórica; nada, ou quase nada, nas línguas se perde, tudo se transforma e é observando o passado que se podem recuperar surpresas que o presente, com frequência, nos traz;

 

O fato de que, àquela altura da história do português ainda não se explicitara a norma, os padrões do uso prestigiado, estabelecidos pelos gramáticos, permite que o português arcaico escrito, representação do falado, mova-se independente de normatizações, já que por toda a Idade Média europeia é o latim a língua da escola, para os raros escolarizados. Tanto gramáticas do português como “português como língua de escola” só entram em cena a partir do século XVI.

 

Esse último argumento da pesquisadora tem relação direta com os estudos a que o projeto se propõe. No que se refere ao estudo do léxico desse período, pode-se afirmar que se revela um importante momento de transição em que muitas homonímias e sinonímias se apresentam, acarretando mudanças morfológicas e semânticas significativas em épocas posteriores. Além disso, o léxico do português arcaico apresenta dois componentes importantes:

 

1) um conservador, que o aproxima da língua latina, apresentando processos de formação e de significação relacionados à língua mãe e que, contudo, não permaneceram na língua portuguesa em seu devir; e

 

2) um inovador, com criações lexicais próprias, que, apesar de estarem inclusas nas possibilidades do sistema, apontam para novas semantizações e novos empregos gramaticais.

 

Assim, a língua portuguesa, que era veículo de comunicação escrita e oral na época evidenciada, se revela bastante heterogênea no decorrer dos quatro séculos que delimitam tal período. A heterogeneidade a que nos referimos significa um continum de mudanças nas estruturas fonológicas, morfológicas, sintáticas, lexicais e semânticas da língua, devido, sobretudo, à falta de normativização da língua, à falta de escolarização em língua portuguesa, que, até meados do século XVI, se restringia ao latim, e à fragilidade dos padrões de usos linguísticos, que naturalmente cambiavam de acordo com as mudanças socioculturais de uma nação em formação.

 

 

OBJETIVOS

 

O objetivo principal e final do Projeto é a elaboração de uma Gramática Descritiva do Léxico do Português Arcaico. Para tal, enfocará três aspectos gerais: morfologia lexical, semântica lexical e antroponímia, desdobrados em um conjunto de questões abaixo explicitadas, a que se procurará responder:

 

  • Morfologia

 

Como se comportam os processos flexionais no português arcaico?

Como se comporta o fenômeno da derivação sufixal?

Como se comporta o fenômeno da derivação prefixal?

Como se comportam prefixos e sufixos na perspectiva da Teoria da Gramaticalização?

Como se processa o fenômeno da formação composicional?

Como se estabelece a fronteira entre a composição e a prefixação?

Como se comportam os elementos de composição na perspectiva da Teoria da Gramaticalização?

 

  • Semântica

 

Como os componentes conservadores do léxico do português afetam a semântica?

Como os componentes inovadores do léxico do português afetam a semântica?

Como a polissemia afeta elementos mórficos e lexicais?

Como a sinonímia afeta elementos mórficos e lexicais?

Como a homonímia afeta elementos mórficos e lexicais?

Como se estabelecem as relações entre léxico e processos cognitivos, como a metáfora e a metonímia?

Como se dá o processo de opacificação dos antropônimos?

 

  • Antroponímia

 

Como se comporta o léxico antroponímico – prenomes- em termos de etimologia e processos de formação?

Como se comporta o léxico antroponímico –sobrenomes - em termos de etimologia e processos de formação?

Como se comporta o léxico antroponímico frente à configuração sócio histórica do período arcaico - motivações que predominam na nomeação de indivíduos?

Como se comporta o quadro do léxico antroponímico da nobreza em comparação com o quadro antroponímico dos demais segmentos populacionais?

Como se comporta o quadro onomástico feminino em relação ao masculino?

 

Para além dos objetivos de investigação científica, o projeto pretende a formação contínua de estudantes pesquisadores de graduação e pós-graduação capazes de desenvolver um pensamento crítico acerca do léxico em perspectiva histórica. 

 

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