Várias navegações: português arcaico, português brasileiro, cultura escrita no Brasil, outros estudos
Rosa Virgínia Mattos e Silva, Klebson Oliveira, José Amarante
PREGRESSO CRÁS
ou à guisa de prólogo
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos – nem mais nem menos –
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história (...)1.
Pensar no tempo corrido entre uma ideia que surge e a atitude que lhe possa suceder é transformar o futuro em passado. É poder enxergar o processo de construção da história, emanado da ação coletiva dos homens, enquanto "cubos ajustados" em um belíssimo mosaico.
O Programa para a História da Língua Portuguesa – Prohpor – é vivo testemunho dessa ação. Quatro mulheres e algumas ideias se conjugaram, nos finais do ano de 1990, em torno do interesse comum de desvendar aspectos da história da língua portuguesa e passaram a fletir seus esforços na composição de um grupo de pesquisa que tivesse a linguística histórica como base de sua atuação.
Passados 20 anos da formação desse núcleo original, constituído por Rosa Virgínia Mattos e Silva, Therezinha Maria Mello Barreto, Sônia Bastos Borba Costa e Maria do Socorro Sepúlveda Netto, a que se foram agregando outros tantos homens e mulheres com o passar do tempo, o Prohpor parece ter tirado "da alma os bocados precisos", que, "nem mais nem menos" – diga-se –, teriam sido necessários para o ajustamento de suas proposições e para a consecução de seus objetivos.
Desde então, ampliou o seu foco de observação – inicialmente centrado exclusivamente na morfossintaxe – para outros níveis da análise linguística, e continuou fomentando a heterogeneidade de emprego de modelos teóricos na avaliação dos fenômenos arrolados na pauta de seus interesses. Conseguiu, com seu trabalho, seduzir, naturalmente e sem esforço pensado, jovens e não-tão jovens estudantes da Graduação e da Pós-Graduação para a pesquisa voltada à reconstrução da história da língua, ao labor filológico – na perspectiva de edição
de textos antigos e modernos – e ao estudo e aplicação de novas teorias linguísticas.
Tudo isso parece licenciar o cariz ufano e quiçá pretensioso deste prólogo que, desde o seu título, ansia por celebrar o amanhã que, para o Prohpor, começava a madrugar na, já relativamente distante, última década do século XX, e que, logo, pela importância e pela consequência do ato, se transformaria em passado, ou melhor dizendo, em história.
Mas tem dupla função a organização desta coletânea. Se por um lado deseja comemorar os vinte anos de inauguração desse consolidado grupo de pesquisa, por outro busca homenagear um de seus mais admirados membros fundadores, Therezinha Maria Mello Barreto.
Recentemente aposentada pela força das normas que regem o trabalho acadêmico no país, tem a Professora Therezinha, como é carinhosamente chamada por seus alunos e orientandos, mantido o interesse pelo estudo renovado da história da língua portuguesa, sobretudo no que concerne à trajetória de seus itens conjuncionais, e, continuadamente, formado diversos mestres e doutores para
atuarem na área da linguística histórica, com especialização na teoria da gramaticalização.
Os trabalhos aqui colecionados são, portanto, uma celebração e uma celebrização, para "aproveitar o tempo" (parafraseando, mais uma vez, um dos versos de Fernando Pessoa), no sentido em que servem aos dois propósitos concomitantemente. Que seja proveitosa a leitura!
Rosa Virgínia MATTOS E SILVA (Ufba/CNPq)
Américo Venâncio Lopes MACHADO FILHO (Ufba)
[Texto originalmente escrito para ser o prefácio do livro "Varias Navegações"]
Em PDF, o livro está disponibilizado em duas partes:
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